01/09/2019

A plantinha sem água.

Sou aquele a que não  tem  a quem pedir que regue suas plantas. Elas estão murchas. Morreram. Talvez haja esperança , lhes dei de beber hoje. Talvez amanhã  recuperem a vida.
Há esperanças para elas. Para mim...
 Eu sou o que em um soslaio recebe  qualquer  atenção para no instante seguinte ser esquecido pelo simples fato de desaperecer das vistas  nesses entreolhares. Vc tem amigos, eu não.  Vc tem a vitalidade  da vida, eu não.  Não se pode viver  de prontidão  com medo que eu de relance veja uma conversa sua, de insinuações sexuais, de nudes intermináveis.  Não lhe quero mal. Longe de mim  lhe fazer mal. Quero-lhe, Antes de tudo, bem. Bem sucedido. Uma pessoa boa e honesta vc há de se tornar.  Quanto a mim devo  cada vez mais buscar o isolamento e me prepar para cear  com  a indejesada das gentes. De ir com ela quando não mais aguentar essa vida, da qual eu só  recebo chibatas, empurrões  e mentiras.  Eu sou um desgraçado que teima em viver ainda que a vida não  me queira.  Eu te amo e por te amar e por meu ciúme  e inveja é que lhe quero longe de mim.  Não  aguento  isso. Dói, e quando começa a doer o adeus é a melhor coisa.  Não precisaremos buscar desculpas, inventar  desencontros, tantas coisas mais. Ninguém   tem nada  a ver com com nada na minha vida. Já  lhe disse sou um pobre  vira-lata abandonado por si mesmo.
Estou alí no canto, vacilando, dando de ombros, encolhido.  Com a voz trêmula,  insegura,  vazia. Com uma voz  gosmenta, acizentada, que fala para dentro  como  que pedindo  licença,  autorização  para viver.  No canto há  cacos de  vidros.   Corto os pés  e sinto alguma  coisa. Algo extremamente genuíno  e verdadeiro: minha dor. Que nunca me abandona, que nunca me trai. Apesar de todos subterfúgios  que uso para lhe fugir, ela está  ali implacável, esse monumento  a minha  ruína ,a esse nada que é  minha vida. Calado soçobro aos poucos me atenho a qualquer coisa  que passe e não morro, vivo quase naufragando, quanse veleijando, quanse vivendo.
As plantas  morreram. Eu não morro. Covardemente  indo um dia atrás do outro engolindo o choro, fingindo suportar. Quando silenciosamente queria que o avião  que me carregasse explodisse. Que eu fosse um acidente  sem nome: indigente morre. Ninguém perguntou.  Foi enterrado em cova raza. E finalmente me junto à lama que me esperava desde o parto aleatório  e desnecessário  naquela madrugada de sábado, de um desses meses que se repetem, de um ano qualquer que finge ineditismo.  Arre. O meu primeiro choro foi  de desespero  e porque o último não  deveria de sê-lo? Enquanto isso me vou aos gritinhos contidos , fingidos e escorregadios  de vida vazia.

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