30/06/2008

CARCARÁ

QUANDO EU MORRER, QUANDO EU ENVELHER

JÁ SEREI O COMPLETO ESTRANHO

PARA MIM

PARA O MUNDO

NÃO TEREI MAIS NENHUMA REFERÊNCIA VIVA

JÁ NÃO ESTAREI MAIS VIVO

HÁ ANOS

QUANDO EU MORRER

QUANDO ESTIVER VELHO

SE FICAR

JÁ NÃO SEREI NADA

NADA ALÉM DO QUE FUI A VIDA INTEIRA:

NADA

A BODEGA NÃO FECHARÁ AS PORTAS À PASSAGEM DO FÉRITO

LAGRIMAS NÃO SERÃO DERRAMADAS

SOU

SEREI UM ESTREANHO

ESTRANHO

O EGOÍSMO DE UMA VIDA

VIVIDA PELA METADE

COM MEDO

E IGNORANDO A ORIGEM DESSE

MEDO!!!!

MEDO?

MEDO...

QUANDO EU MORRER

NEM SENTIREI MINHA FALTA

NÃO POSSO ESPERAR QUE O FAÇAM POR MIM...

QUANDO FECHARAM O TÚMULO

AS CHAGAS APODRECEREM

NÃO SEREI MAIS EU

E NÃO SEREI NADA

NÃO ESTAREI NAS LEMBRANÇAS DE NINGUÉM

NUNCA TIVE NINGUÉM

NINGUÉM NUNCA ME DEIXOU TÊ-LO

QUANDO EU EVELHECER SÓ TERIE A VELHICE.

NÃO DEIXAREI NADA PORQUE OS ABÚTRES POSSAM BRIGAR,

OS DESPOJOS DE UM CORPO VENCIDO PELA GUERRA DA VIDA SERÃO DE QUEM?

QUEM VAI QUERER ALGO?

EU NUNCA QUIS!!!

TIVE UM DIA ATRÁS DO OUTRO ENTRE UM NOITE ESCURA E QUENTE, SEM VENTO SEM CHERO , SEM AROMA DE VIDA,

SÓ DE ESCURIDÃO ACINZENTADA.

O VÔMITO NUNCA VEIO

NUNCA VIRÁ

SÓ A VONTADE DE VIVER

VIDA QUE NAO TIVE

NÃO TEREI

SEREI PLENO

NA CAL...

07/06/2008

O estertor deu lugar a mais pura dor
A esperança se partiu

o fio findou
O que sobrou foi a lama podre da morte

A dor da inexistência supera a dor do existir
O estertor se calou
Soçobrou a vida num estalido
Na frialdade do descaso
O mundo não se acaba
Acaba quem se cala
Você se calou

Mas sempre vou ouvi-la!