17/03/2020

Um bolinho

Essa solidão de uma carneira caiada. Que carcome as carnes podres, lindamente branco por fora. Fétido e podre por dentro. A solidão me devora por dentro num mundo imagético em que minha imagem se  confunde com  fundos e figuras esquálidas.  Um vício maldito me assola como um verme que  consome o último pedaço de carne podre.
Me pergunto o que faço com tanta dor se tenho tanto amor  sem destino. Dói. A dor dói quando não se tem destinatário para o amor. Pois amar é sempre solitário e eu não quero mais solidão. Talvez servir um pedaço de bolo me deixe um pouco mais menos solitário.

09/03/2020

Vazio

Não é por você , ou por ninguém .
O ar me pesa nos pulmões. As pálpebras me pesam nos olhos , as lágrimas descem inundando o mar. Não tenho a quem pedir socorro. Tangi tanto você para longe e me disseram: você vai se ver com esse aí . Não , não me vejo, me arraso. Com os olhos inundados não posso ver nada. Não sinto nada. Uma alma perdida cuja direção eu que dei . Eu que fui farol. A vida é uma bosta irônica. Tantas vezes que lhe expulsei e lentamente você tramava o golpe fatal. Mal há Almir em SP ou em qualquer outra capital. É ilusão. Estão fadados a estarmos só. Nessa maldita multidão de solitários  caolhos que não se enxergam , só a seus propósitos.  Amar é verbo defectivo. Não haverá mais sorriso que caiba no meus ouvidos. Não haverá mais nada que me fará acreditar em mentiras um segundo, sequer. Amar não é verbo. Amar é corrente. Que afundo junto com você na mais das abissais fossas oceânicas. Amar é perder A respiração e continuar a respirar porque a pobreza e a fraqueza lhe obrigam a bater o ponto e como um zumbi você vai levando o resto que lhe chamam de vida. O cinza amarelado que cobre a dor da gordura do seu coração. Amarelo é a dor da gordura cardíaca. Um dia ela entope e para tudo. Porque eu não vejo sentido em dormir sempre do mesmo lado da cama e o outro sempre vazio.

08/03/2020

A hora é agora

Querer o que se tem. Querer estar onde se está é crime. Temos que querer o que não temos . Morar onde não podemos . Querer o impossível , competir com Hércules , porque se assim não o for somos medíocres. Somos fracassados. Mas esquecem que se não fracassados, somos escravos dessas vontades tolas. Temos que ir para o sul, para o norte. Temos que sermos ser cidadãos de segunda classe algures . E fingir que chegamos lá. Temos  que não nos conformar com nossa casa de subúrbio já quitada. Temos que entrar na roda do capital especulativo para satisfazer desejos escusos de terceiros e de quartos ...
A satisfação é um pecado. Buscar a felicsde é o que constitue o verdadeiro caminho. Não sou nem serei pedra no caminho de ninguém. Me deixe aqui. Ensimesmado. Com minhas graduaçõezinhas. Com meu salário pífio que paga minha comida. Sou proletário. Meus arroubos de classe médio se desfizeram no manifesto comunista. Nem precisei ler O Capital. Me resigno com toda essa miséria em não me reproduzir . Em não reproduzir papéis que esperam que eu reproduza. Cansei. Melhor seria que não demorasse.
Amor não paga contas.  Licenciaturazinhas pagam até aqui. Corra atrás de seu bachareladozão. Na próxima nos encontramos , ou não. O futuro é incerto. A vida é incerta
 É dolorida
 É fingida
 É um balaio de coisas que não sei o nome. É um balaio de coisas cortantes , dilacerantes. A sua demora é só mentira . Melhor partir
 O quanto antes. Sem choro nem vela.
No fim a vida é uma cova rasa.
Vai-te embora.