23/02/2020

Prosa em linha torta


Não sou muito de prosa, pois sou precoce, sou direto, e por vezes e horas, até grosso. Mas hoje eu seria de prosa. Seria uma prosa devastadora, um cataclismo voraz  que como nas delongas de uma romance iria carcomendo as histórias, como em um fenômeno autofágico.
Não sou de delongas, não sei explicar, já entendo... E se eu entendo qualquer seria capaz de entender tudo. Não considero de extraordinário nada daquilo que eu  possa fazer, não acho pelo menos nos outros... Já em mim... Ah, continuo sem achar nada ainda. Porque de fato não procuro. Minha vida não tem sido procura, vez ou outra ate que acho algo, e que nem gostaria de ter achado, outras que nem gostaria de ter perdido, pois essa massacrante  historia de que o passado, sempre com aquele tom melancólico, foi de certa forma, ainda que em idéia, melhor do que  o dolorido presente, porque a dor do passado não dói, o passado só existe em  na dor que passou, enlutada e já esquecida. Ah, a prosa, corre solta, disfarçada procurando meios, enleios para dizer o que a poesia dia assim do nada, num simples: “eu te amo”. Mas a vida em prosa não se resume a um simples “eu te amo”. Vai envolver um “eu”, “um você” e todos os o outros que são a favor ou contra, ou os ainda se fazem de Suíça. E e ela, a poesia, nem só de “eu te amo” vive persiste num sonho de um lado só, num acordado só: A dor dos outros não dói. E por que o amor teria companhia nessa desventura que antes mesmo de começar já esta fadado ao fracasso? A o amor, a prosa, a poesia, a vida: será que eles tem em comum?
Nem sei, eu ao tenho nada em comum com ninguém em lugar algum, o ente alienígena que vaga assim diferente de todos em todo canto. Viverei a síndrome de avestruz. Assim, assim... vou proseando, assim assim...


22/02/2020

Personas

Ando assim. Às  vezes choro, às  vezes grito. Às  vezes corro. Às  vezes paro. Na maior parte da vida paro. Choro. Sou triste porque não saio do lugar. Porque sou sempre o mesmo, por em mim jazem cataclismas violentos, inertes, que me disfiguram o cérebro. Grito agonizando no próprio  silêncio.  Uma música, um poema, um parágrafo, algo assim me faz chorar porque me sinto só é incompreendido. Porém cabido ali naquele verso doido que alguém escreveu ou que até mesmo eu escrevi. Sempre me vejo só. Isso me dói. Num mundo onde todos são falsamente acompanhados e eu verdadeiramente só não me dá  muitas opções senão calar e chorar o choro dos vencidos,  dos perdido, dos que não cabem em lugar algum, dos que não têm par em coisa alguma nisso tudo. É  carnaval e eu não tenho meu arlequim,  é  carnal e eu só tenho máscaras de tristeza. Mas quando passar o carnaval elas continuarão comigo resto do ano até o feliz ano novo do maldito script a que estamos presos. É  carnaval e eu não estou feliz. Estou só como a mais longínquas das estrelas e tão perto de qualquer coisa eu estou e invisível  e inútil e vazio e perecível e invejoso e dispensável e nulo e podre sou.
É carnaval só choro, nem reza nem vela só escuro atrás dessa máscara que não sei o que esconde. Choro ouvindo uma música que não foi feita pra mim. Mas cujo versos traduzem o que sinto: abandono! Sideral! Autoquíria. Coragem! Sideral!

Por que estamos aqui?

Um amor que não aguenta a uma tela de celular.  Um amor que não resiste a uma olhada a uma tela de celular. Um amor exibicionista de ex-fodas. Que tudo veem. Tela apagada no menor movimento. Diálogos parcos. Mas o amor é  meu... Mas o ego não resiste, como a tela não resiste, como a verdade não resiste. Como essa farsa não resistirá.  Libertas quæ sera tamen. Não vivo de esmolas , de toques disfarçados . De olhares oblíquos de Morais idem. Adeus.

14/02/2020

Veritas

Naquele momento de  fúria que escapole a verdade. O cuspe,o ódio. Você é  um verme! 
Terrivelmente as tentativas de ofensas falham. Assim como falham as tentativas  de amor. Tratativas... detrator amor... às vezes em estados volitivos dignos do egoísmo de uma criança de 4 anos se pretende afável, se pretende ser o que não se sustenta por minutos. Ah, a liquidez, esse eterno entornar...
A gente se esvazia. Promessa de sexo em troca de favores fúteis. Promessas... Ao que cheguei?
Vou derrubar algumas paredes; pintar outras. O que não mudo por dentro pinto por fora. E vou assim seguindo esse determinismo ambiental derrubando para não ser tão ambientalmente determinista. Afinal derrubo paredes, ergo outras é me finjo,  me ergo outro. Vou lutando para não me fingir esperando a hora da morte que hora tarda, hora se aproxima. Vou sendo, eternamente me sendo até hora que meu último suspiro me for concedido ou em que eu me livre dele, me tome pelas rédeas a vida e  me adentre no reino de hades.  Mortífero como as labaredas da vida me entrego à morte sorridentemente.  Porque triste mesmo é  viver triste e apagado.

01/02/2020

Sideral

Antes eu me importava quando o gozo não vinha. Hoje eu gozo e vou embora. O prazer e a dor são solitários. Tudo é só nesse mundo. Um par de fones de ouvidos resolve tudo. Isola você do resto ou resto de você. Finge-se demência, adolescência tardia ou algo que lho valha. E mete o louco , vai embora. Se vai. Goza no passado. Deixa no passo tudo, até as possibilidades. Esquece também as possibilidades. Se entrega ao calor, ao esquecimento da noite. Aos antidepressivos. O gozo é sempre tão pretérito. Planos? Não os tenho. Não os faço. Não quero saber nem o que  vou almoçar nem onde.
Às vezes o gozo não vem. Às vezes insisto nisso. Perda de tempo. É vazio. É vazio. Repetitivo. Vai e vem , vai e vem. -, é que sou pós 11 de setembro.  Eu sou pós-geurra. Eu sou do nordeste mesmo. Da fome. Da seca. Da invasões de SP. Das palafitas de Santos. 11 de setembro? Não me espanta. Não me espantou. Não durmo. Demoro a dormir . Escuto roncos. O gozo não veio e já não me importo mais. Eu senti o meu. No passado. E é sempre assim: no passado. Por que qualquer coisa que fuja além da possibilidade do passado ou do futuro não existe. Todo amor tem o mesmo gosto. Porque o gosto é seu. É você quem sente. Por isso que é solitário. Ser é isto: eterna sensação de esvaziamento. Vazio.  Vazio. Sideral.
Não ousarei dizer ouvir estrelas, que coisa mais sem nexo. Mas se parasse para escuta-las, de repente , quem sabe, não as escutaria. Esquizofrenia pura, quiçá. Mas me sentiria um pouco mais acompanhado. Vozes na minha cabeça. Vozes siderais.  Amar é sempre um ato solitário. Amar é voluntário. Amar é um balde, de balde, tentando permanecer cheio. Mas embalde , embalde.   Verte-se todo povir, todo devir, todo vir a ser em nada. Vazio. Sideral.
Ouvi uma estrela. Eu e ela somos tão solitários. Ela brilha e eu tão apagado. Mas vamos morrer. Tanto eu como ela. Eu lhe segredei. Também já fui estrela. Também já brilhei.  Hoje estou apagado.  Contento-me, ora pois, você também vai se apagar. Todos já fomos brasas. E toda brasa vira carvão.
Ela não me respondeu. Ficou muda. Ora, ora, não ouço mais a estrela. Ficou com medo a coitada. Tudo se apaga. Não se engane. Mesmo no silêncio tudo se consome. Grite. Fale comigo. Eu ainda consigo ver seu brilho. Já era tarde, era um brilho sem graça, quase transparente verde-cana-limão. Com cheiro de infância. Ela se desprendeu de mim. Não vi mais seu brilho. Eu também já fui uma estrela. E hoje nem sei o que sou. Sei que não brilho. Nem aqueço. Apagado. Sideral.
Ensurdecedor. Ousarei ainda dizer ouvir estrelas, e mais, fui uma. Hoje?
Não importa.