15/07/2024

Um drink de saudade



Após um longo e imperceptível hiato, encontrei Richard (a azeitona do meu Martini). Nossa amizade foi sempre permeada por hiatos e afélios. Raramente fomos um ditongo crescente. Mas nos encontramos depois de anos, e foi como se os anos não tivessem passado. Não perguntamos pelo passado. Vivemos uma noite das antigas, com bebida e cigarro (não fumo, mas nessa noite, entretanto, abri uma exceção).


Precisava saborear novamente a ideia de ter um amigo que invadia minha casa, minha alma e meu sorriso. Ele foi o que eu tive de mais próximo de um amigo. Amigo no sentido mais amplo, mais devastador, mais intruso e, ao mesmo tempo, convidado.


No passado, passávamos horas acordados conversando, jogando, de mal, rindo. Acho até que já chorei. Nós nos vimos completamente nus, despidos de vergonhas, de moral, de ética. Fomos, por um período, irmãos (pelo menos para mim). E como vocês sabem, eu amo torto. Eu amo na contramão. Não importa se ele me amou tão visceralmente quanto eu o amei. Eu construí esse amor com todos os cacos de desamores que encontrei pelo caminho. Amo a ideia que tive dele em sua tenra idade, acabando de abandonar a adolescência ou num meandro de adolescente com infantilidade tardia.


Eu o ajudei, em algum momento, a descobrir o mundo. Descobrimos partes do mundo juntos. Eu amei Richard como o irmão que me faltou, como a um amante que me faltou.


Nunca mais experimentei o nível de intimidade que experimentei com ele com mais ninguém. Às vezes sinto saudade. Ele era tão nostálgico, embora tivesse vivido tão pouco. E eu, tão agarrado ao presente, sentindo cada minuto se acabando, sabendo que aquilo estava com os dias contados. Tic-tac. Boom!


Acabou. De repente, não fazíamos mais parte da vida um do outro. Na bifurcação da vida, a gente sempre vai para lados diferentes. Richard partiu e deixou um lugar que era só dele. Está aqui no meu peito todo o amor que senti por ele. Está no meu peito toda a intimidade. E está no meu peito o abandono que a vida nos impinge.


Hoje, ainda vivo na esperança de encontrar um novo Richard, para que o oco de minha alma não fique assim tão oco. Não por ele, mas por mim, que não sei viver. Sou um arremedo de vida, o quartinho de fundos.


Meu coração bateu um pouco mais forte, mais honesto e menos preguiçoso quando o vi. Mas sei também que foi só um flash, uns segundos roubados. Na vida de qualquer um, tenho menos peso que uma pluma.


Mas não importa. Na noite em que encontrei Richard, meu coração sentiu um acalento. E tomei meu Martini e comi a azeitona.


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