Invejo profundamente aqueles que possuem amigos. Amigos de verdade. Porque, veja bem, eu fui amigo de muitos. Fui o amigo deles. Eles, no entanto, nunca foram os meus. A estrada entre nós sempre teve uma única direção, e eu, inevitavelmente, seguia pela contramão.
Eu sou o amigo que estende a mão sem ser chamado.
Sou aquele que chega quando todos se vão.
O amigo a quem recorrem nas horas de incerteza, nos momentos de desespero, mas que nunca é lembrado nas celebrações, nas alegrias. Nunca recebo um convite para o aniversário, para as pequenas festas da vida.
Sou o amigo solitário, sempre ali, em silêncio, como um livro na prateleira, esperando ser folheado quando alguém precisar de respostas.
Eu sou o amigo útil. O que paga com préstimos cada cumprimento superficial. E sem essa utilidade, me torno invisível. Eu fui invisível desde o dia em que nasci.
Sou o quarto dos fundos, onde se guardam coisas esquecidas, sempre à disposição, mas nunca realmente visto, nunca realmente querido.