Ritos de passagem
Será que é necessário haver toda essa existência? Será que poucas delas já não se bastam? Existem tantas coisas sem as quais tantas outras existiriam por si só. O que há nesse mundo são existências descartáveis, prescindíveis. Existências que só servem para doer, para fazer doer, a dor em si já não é o bastante? Qual a função dos ritos de passagens? Marcar passagem do nada ao lugar nenhum? Vejo em minha frente seres que sequer sabem que existem, mas que estão aqui comemorando a sua pseudointegração ao sistema. Eles acreditam que fazem alguma parte de algo. E sabê-los, vê-los me dilacera. Me corta a alma sentir esse cheiro de esperança, de uma vida melhor, pois sei apenas que é tão-somente esperança, esperança irrigada, cultiva, alimentada com as dores do hoje, com o futuro promissor. Será que toda essa parafernália de esperanças precisa mesmo existir? E o que seria parar de existir? Será que o alimento de hoje dará para amanhã também? Ou talvez amanhã é muito longe, é um futuro incerto, do qual não vale a pena se ocupar, preocupar? Meu Deus será que elas já chegaram lá? E a chegada, teria algum gosto? Quando perceberão que por mais que caminhem, que beirem a vitória abastecida pela esperança, no fim da aridez, o cinza da paisagem não é nada? Lá não existe, apenas um caminhar incansável. Incansável? Eu por mim já estou cansado. Acordado. Cônscio, infelizmente. Caminhar não me apraz, caminhar não me faz viver. O que será que faz essas pessoas viverem, vida que estampa em suas caras um sofrimento que elas mesmas desconhecem, nem querem enxergar? Meu Deus! Por que eu também não sou cego, indolor, incolor? Incauto? Ignorante de minha própria existência? Por que não vejo em minha frente um oceano de possibilidades? De coisas grandes quer para o bem , quer para o mal? Por que não me dicotomizo, por que não sigo duas ou mais coisas ao mesmo tempo? Por que me mantenho tão monocromático?
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