22/11/2025

Cansaço da porra

 Eu sou o que sobrou.

Não tem poesia nisso. Tentei ser várias coisas e me fodi em todas. A miséria não esmagou versões delicadas de mim — ela me arrancou pedaços e eu deixei, porque era mais fácil do que brigar.

Matei parte de mim por covardia. Por cansaço. Porque era menos trabalho desistir do que insistir em algo que o mundo inteiro conspirava para não deixar acontecer.

O que ficou não é uma síntese. É um resto. Torto, mal-acabado, feito às pressas entre o que eu aguentava e o que me deixavam ser.

Me olho e vejo muita coisa que me enoja. Mas estou aqui. Não celebro nada — nem essa porra de continuar vivo merece troféu.

Tem um cisco em mim que não morreu. Não é esperança. É teimosia bruta, animal, idiota. É o que me faz acordar mesmo sabendo que vai ser uma merda de novo.

E talvez — só talvez — eu use isso pra tentar de novo. Não porque acredito. Mas porque desistir agora seria dar razão pra tudo que me quebrou.

Então foda-se. Vou tentar feio, torto, ridículo.

Pelo menos não vai ser bonito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário