Eu sou o que sobrou.
Não tem poesia nisso. Tentei ser várias coisas e me fodi em todas. A miséria não esmagou versões delicadas de mim — ela me arrancou pedaços e eu deixei, porque era mais fácil do que brigar.
Matei parte de mim por covardia. Por cansaço. Porque era menos trabalho desistir do que insistir em algo que o mundo inteiro conspirava para não deixar acontecer.
O que ficou não é uma síntese. É um resto. Torto, mal-acabado, feito às pressas entre o que eu aguentava e o que me deixavam ser.
Me olho e vejo muita coisa que me enoja. Mas estou aqui. Não celebro nada — nem essa porra de continuar vivo merece troféu.
Tem um cisco em mim que não morreu. Não é esperança. É teimosia bruta, animal, idiota. É o que me faz acordar mesmo sabendo que vai ser uma merda de novo.
E talvez — só talvez — eu use isso pra tentar de novo. Não porque acredito. Mas porque desistir agora seria dar razão pra tudo que me quebrou.
Então foda-se. Vou tentar feio, torto, ridículo.
Pelo menos não vai ser bonito.
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