Eu queria as cartas que você nunca escreveu pra mim. Queria segurá-las entre meus dedos, sentir a tinta que não existe, o papel que nunca tocou sua mão. Mas elas não existem. Nunca existiram. E mesmo assim, faço minhas próprias cartas, escrevo palavras que ninguém lerá, linhas que se perdem no silêncio da minha gaveta, peso inútil que carrego comigo como se pudesse preencher o vazio que pensei ser seu.
Quis ler você, mas você não postou uma palavra sequer .
Não foi prosa, nem poema; foi apenas ausência, uma letra muda, um H qualquer;
e eu me vi lendo páginas com palavras de minha própria esperança, essa coisa que seca antes de chegar ao mar.
— bem ou mal escritas eu as queria; tortas ou perfeitas; elas gritam dentro do meu peito,
tremulam minha ossatura e se esmagam contra minhas retinas, mesmo sem existir.
Eu não li suas linhas, não toquei seu corpo, não conheci sua presença em nenhuma forma possível. Tudo que tive foram minhas cartas, trancadas, inúteis, e a certeza de que você nunca seria nada além do que não chegou até mim: as cartas nunca enviadas.
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