O domingo escurece cedo demais. Na tela do celular, notificações que não chegam. Conversas arquivadas pelo cansaço. A sala permanece com os objetos no lugar, imóveis, como cúmplices de um tédio sem escândalo.
A tarde se dissolve, e a casa respira um ar de suspensão. As ruas silenciam, não porque estão vazias, mas porque ninguém quer dizer nada. O domingo exige um certo recolhimento. Os desejos guardam-se na gaveta, junto com as roupas que serão usadas amanhã.
O amor, nesse cenário, não floresce. Falta impulso. Falta vontade. A noite de domingo apenas constata: o afeto não vence a inércia. Cada gesto possível se retrai diante da rotina que se anuncia. É como se o tempo todo dissesse: melhor esperar. Melhor adiar. E assim, adia-se para sempre.
O domingo não é tragédia; é pausa longa demais. E é nessa pausa que o amor se perde, soterrado pela antecipação da semana. O domingo foge da vida que poderia ser, escondendo-se nas entrelinhas de um cotidiano que não ousa transbordar.
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