talvez e só talvez, a poesia salve alivie as dores da alma entre tantos espinhos que nos espetam.
24/11/2024
Dominguices
11/11/2024
Memórias e Desmemórias
A relação que estou tendo com a memória tem sido paradoxal.
Parece que ando esquecendo de pessoas, fatos, coisas de propósito.
Esqueço o nome de fulano, o que me disseram, o que são, para além da matéria orgânico-biológica.
Eles têm sido uma experiência imemorável.
Esqueço rápido nome e sobrenome,
o que são e o que fazem,
menos o que me fizeram.
Esqueço porque a vida é sobre a lembrança do bem, do aconchego, do prazer.
E qualquer dor de cor e salteado deve habitar as desmemórias do universo.
É tudo tão distante, tão rápido de esquecer.
Qualquer um, qualquer coisa não passa de uma lembrança de um sonho sofrido.
Acordou, o sonho acabou,
e respiramos aliviados porque era só um sonho.
Desmemorizo, bem esquizo, crio versões paralelas igualmente esquecíveis e descartáveis.
Amemos o presente.
Não tenho passado,
menos ainda futuro.
Esqueci que dia é amanhã, mas pouco importa: hoje eu comi uma torta!
Moro há mais tempo nessa casa do que já morei em algum lugar além de meu corpo.
Moro aqui nessa casa
Mas é na casa de criança, na casa perto de onde nasci , no lugar onde nasci que as memórias florescem.
Floreiam em mim os riachos pelos quais passei.
Floream em mim as mangueiras,
As bananeiras, as jaqueiras, laranjeiras
Floream em mim a infância do sítio.
Do nosso pedaço de terra de onde tirávamos maior parte de nosso sustento.
Jenipapeiros , coqueiros , cajueiros.
A velha casa de farinha.
O forno da farinha, a prensa , o banco do rodete.
Floream as velhas lembranças de infância
Tão frescas quanto uma flor que acaba de desabrochar.
Florea com rimas e sem rimas
Com gritos
Com risos
Com nostalgia e acima de tudo
Com alegria
A infância perfeita
E agora partida.
10/09/2024
Presto!
Invejo profundamente aqueles que possuem amigos. Amigos de verdade. Porque, veja bem, eu fui amigo de muitos. Fui o amigo deles. Eles, no entanto, nunca foram os meus. A estrada entre nós sempre teve uma única direção, e eu, inevitavelmente, seguia pela contramão.
Eu sou o amigo que estende a mão sem ser chamado.
Sou aquele que chega quando todos se vão.
O amigo a quem recorrem nas horas de incerteza, nos momentos de desespero, mas que nunca é lembrado nas celebrações, nas alegrias. Nunca recebo um convite para o aniversário, para as pequenas festas da vida.
Sou o amigo solitário, sempre ali, em silêncio, como um livro na prateleira, esperando ser folheado quando alguém precisar de respostas.
Eu sou o amigo útil. O que paga com préstimos cada cumprimento superficial. E sem essa utilidade, me torno invisível. Eu fui invisível desde o dia em que nasci.
Sou o quarto dos fundos, onde se guardam coisas esquecidas, sempre à disposição, mas nunca realmente visto, nunca realmente querido.
15/07/2024
Um drink de saudade
Após um longo e imperceptível hiato, encontrei Richard (a azeitona do meu Martini). Nossa amizade foi sempre permeada por hiatos e afélios. Raramente fomos um ditongo crescente. Mas nos encontramos depois de anos, e foi como se os anos não tivessem passado. Não perguntamos pelo passado. Vivemos uma noite das antigas, com bebida e cigarro (não fumo, mas nessa noite, entretanto, abri uma exceção).
Precisava saborear novamente a ideia de ter um amigo que invadia minha casa, minha alma e meu sorriso. Ele foi o que eu tive de mais próximo de um amigo. Amigo no sentido mais amplo, mais devastador, mais intruso e, ao mesmo tempo, convidado.
No passado, passávamos horas acordados conversando, jogando, de mal, rindo. Acho até que já chorei. Nós nos vimos completamente nus, despidos de vergonhas, de moral, de ética. Fomos, por um período, irmãos (pelo menos para mim). E como vocês sabem, eu amo torto. Eu amo na contramão. Não importa se ele me amou tão visceralmente quanto eu o amei. Eu construí esse amor com todos os cacos de desamores que encontrei pelo caminho. Amo a ideia que tive dele em sua tenra idade, acabando de abandonar a adolescência ou num meandro de adolescente com infantilidade tardia.
Eu o ajudei, em algum momento, a descobrir o mundo. Descobrimos partes do mundo juntos. Eu amei Richard como o irmão que me faltou, como a um amante que me faltou.
Nunca mais experimentei o nível de intimidade que experimentei com ele com mais ninguém. Às vezes sinto saudade. Ele era tão nostálgico, embora tivesse vivido tão pouco. E eu, tão agarrado ao presente, sentindo cada minuto se acabando, sabendo que aquilo estava com os dias contados. Tic-tac. Boom!
Acabou. De repente, não fazíamos mais parte da vida um do outro. Na bifurcação da vida, a gente sempre vai para lados diferentes. Richard partiu e deixou um lugar que era só dele. Está aqui no meu peito todo o amor que senti por ele. Está no meu peito toda a intimidade. E está no meu peito o abandono que a vida nos impinge.
Hoje, ainda vivo na esperança de encontrar um novo Richard, para que o oco de minha alma não fique assim tão oco. Não por ele, mas por mim, que não sei viver. Sou um arremedo de vida, o quartinho de fundos.
Meu coração bateu um pouco mais forte, mais honesto e menos preguiçoso quando o vi. Mas sei também que foi só um flash, uns segundos roubados. Na vida de qualquer um, tenho menos peso que uma pluma.
Mas não importa. Na noite em que encontrei Richard, meu coração sentiu um acalento. E tomei meu Martini e comi a azeitona.
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06/07/2024
Ancorar e desancorar
Eu sou como a pedra que afunda;
A corrente que você se arrasta.
Eu sou o atraso do seu futuro.
Corra!
Me confundem com âncora quando convém.
Me confundem com segurança quando convém
Me garantem um futuro quando convém
Amizades fincionalistas.
Calculistas.
Golpistas.
Parasitas.
29/06/2024
Amnésia
Assim como quem lembra do dia quando cai a noite
Me lembrei de você
Como quem quer esquecer .
25/06/2024
Risos rasos
O sorriso das hienas: não se enganem!
Riem à espera de que vc vire carniça. É disso que vivem, de restos podres. Não podem abater quem se eleva acima delas.
Nunca vivi de restos e tampouco de carniça.
HIENAS! Deite à noite e pense NOS restos que a vida lhe trará, restos podres e abra o seu sorriso falso, amargo e infeliz. O seu sorriso é só dente. É o ranger da amargura de tua esquálida e patética existência.
No fim, meu caro, tudo vira bosta e você vai ter um banquete para se fartar.
H-I-E-N-A-S!
16/06/2024
Morar
03/06/2024
03/04/2024
Catacumbas e casebres
De certa forma estaremos ambos presos às nossas lembranças esfarrapadas;
Você estará em qualquer lugar do mundo.
E eu estarei sempre no mesmo meu lugar de sempre.
Quando se lembrar de mim estarei aqui
Sepultado como sempre estive.
Você se lembrará de mim aqui .
Não haverá nada que lhe faça esquecer de mim
De meu pequeno mausoléu.
Esquecerei de você porque o mundo é grande
O meu amor é grande
E você foi pequeno!
E meu esquecimento é grande
E minha casinha tão pequena
Tão intacta
Tão no mesmo lugar
Estaremos eu e ela ali.
Mudarei uns móveis de lugar.
Pintarei as paredes de outras cores.
Seguirei sendo eu:
Esquecendo , e amando de novo. Até esquecer de novo.
Tudo com novas cores ainda que no mesmo lugar.
Vai-te, o mundo é teu!
Meu mesmo só esses palmos de terra 🌎
02/04/2024
Tarefas
Há sempre o que fazer
Uma casa por varrer
Uma cama por forrar
E um amor pra terminar .
Uma dor pra sentir
Um adeus pra dar e partir.
E viveremos assim com tudo inacabo
Porque o fim é acabado.
27/03/2024
De adeus em adeus
Fomos já tarde um para um outro
Nascemos prematuros
Nunca sobrevivemos.
Éramos insensatos
Você um vulto vão
Que assolava só para rimar
O meu coração.
Expulso. Expelido . Esquecido.
Você será uma sobra fácil de esquecer.
O adeus mais fácil que já encontrei.
A mentira mais sincera que já vivi.
Nunca me enganou.
Nunca me engano.
Não me enganei.
Roubou muita coisa de mim
Mas só que não me faria falta.
Eu sem você continuo eu.
Eu não peço nada, desgraça!
Que não seja por falta de adeus
ADEUS !
Nem o lirismo da tristeza você despertou em mim.
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