Na curva do rio ficam os destroços — o que já não serve à travessia. Amores saturados de pressa, gestos inacabados, palavras que não suportaram o peso do silêncio. O curso das águas não se detém; ele carrega apenas o que ainda pulsa, o que tem densidade suficiente para continuar. O resto, o leve demais, o frágil demais, se encosta na margem e apodrece devagar, como se o tempo ali fosse mais viscoso.
Vivemos num mundo onde os vínculos se desfazem antes de secar a primeira lágrima. O toque virou metáfora, e a presença — notificação. Tudo flui, dizem, mas o que flui demais não cria raiz; apenas atravessa, como um corpo sem memória. Cada encontro é um estilhaço, um lampejo que já nasce condenado ao esquecimento. A liquidez das relações não dissolve a solidão, apenas a disfarça com reflexos e promessas.
O rio segue — indiferente. Não há culpa na correnteza, apenas instinto. O que presta resiste à força da água, adapta-se, encontra novas margens. O que não presta — e talvez sejamos nós, ou o modo como amamos — fica ali, retido na curva, lembrança de uma permanência que não soubemos sustentar.
E o rio continua, como o tempo, como a vida: carregando e descartando, escolhendo sem escolher, limpando-se do peso dos laços que não soubemos manter.
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