Ao primeiro passo, à primeira oportunidade eu sigo só ou sou deixado à beira do caminho. Sou e apenas sou quando necessário. Afora isso, busura descartada.
Qualquer pessoa se torna a mais interessante do mundo. Entre mim e qualquer outra do mundo: qualquer coisa. Eu sou um apêndice, que dirige. Leva de um lugar a outro. Que não sou digno de selfie ou de abraços em público.
E imagino a conversas que teriam tido se eu não as estivesse estragado.
Todas as conversas possíveis. - poxa, mor feliz de te encontrar, pena que eu tô com o otário. Tenho Que fingir que estou com ele senão ia ver o resto do pessoal e a gente ia toma umas ( manda as fotos depois.) Queria beber.
É isso aí. Eu sou o não. Eu sou o nada. Quanto mais gente eu vejo me perco num mar de rostos que parecem , e apenas parecem , felizes e ajustados. Engajados, descolados, contentes. Esse contentamento maldito me aborrece.
Me fecho, vou a um canto. Escuto uma senhora feia e esquálida murmurar: coitado, esse tá desprezado. Em seguida passa um bêbado com um olhar empático, achando que eu no batente da porta, também estivesse ébrio. Me olhou com cara de contentamento de prazer , talvez, por não se sentir o único bêbado e desprezado da festa. Não. Ele não era o único. Eu também era O Despreszado. Ainda a comiseração por minha pessoa não passou. Acho que estava com cara de combalido. Um maconheiro me assobia faz sinal de legal e pergunta de estou bem. Balanço a cabeça. Só tinha força para isso. Uma senhora pobre e feia, um bêbado e um maconheiro me sentiram ali no batente de uma porta de uma rua que leva para uma festa por fora e que me levava para um enterro por dentro. Sento, sento, sinto, sinto, choro desconfiadamente e assim vou enxugando as lágrimas que não têm nome nem gênese. Toda aquela felicidade por fora daquelas pessoas me notava mais amargo e incredulo do que tudo.
Também queria ser como elas: achar a felicidade numa lata de cerveja. Em quem bebe a cerveja e em que cata a lata.
Eu sou estrangeiro de mim, em mim. Tanto que chego a despertar compaixão num bêbado, numa senhora miserável e num maconheiro humanista. Alguém sentiu um pouco de minha dor. Se não sentiu sabia que estava doendo. Existir doí E eu não tenho remédio pra dor.
Sou sou o motorista. Vivo por fora e morto por dentro , não há festa que me ressucite. Não há tristeza que me mate de vez.
talvez e só talvez, a poesia salve alivie as dores da alma entre tantos espinhos que nos espetam.
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