28/09/2020

De súbito

Hoje estou triste como se tivesse descoberto a tristeza da vida hoje. 
Hoje estou triste com uma dor verde-acizentada.

 Estou triste como quem sabe que nasceu para morrer em vão 
Triste como quem sabe 
Que se vive em vão.

27/09/2020

Viagens

Viajar é uma coisa engraçada. a princípio o estranhamento, a novidade. Depois as coisas se assentam, cristalizam e o que você mais quer é voltar para casa. O que você não suporta é a sua própria companhia. Assim sendo , qualquer lugar será a sua não casa. Até a sua casa é um estranho pra você. A vida é esse estranho que nos invade a casa e invadidos queremos fugir. Não há como fugir de si. Voltar pra casa é a melhor parte de qualquer viagem. partir e voltar, partido e experenciado, sem esperança.Porque qualquer coisa é sempre a mesma coisa. Qualquer lugar que eu vá, estarei eu lá com essa cara de quem não morre, nem vive. Apenas respira.

08/09/2020

Olvidado

 Esqueci seu nome


Seu rosto


Seu cheiro, sua voz


Sua boca. 

Esqueci de você


Que nunca existiu e 

Não existe mais!


17/03/2020

Um bolinho

Essa solidão de uma carneira caiada. Que carcome as carnes podres, lindamente branco por fora; fétido e podre por dentro. A solidão me devora por dentro num mundo imagético em que minha imagem se  confunde com  fundos e figuras esquálidas.  Um vício maldito me assola como um verme que  consome o último pedaço de carne podre.
Me pergunto o que faço com tanta dor se tenho tanto amor  sem destino. Dói. A dor dói quando não se tem destinatário para o amor. Pois amar é sempre solitário e eu não quero mais solidão. Talvez servir um pedaço de bolo me deixe um pouco mais menos solitário.

22/02/2020

Personas

Ando assim. Às  vezes choro, às  vezes grito. Às  vezes corro. Às  vezes paro. Na maior parte da vida paro. Choro. Sou triste porque não saio do lugar. Porque sou sempre o mesmo, porque em mim há cataclismos violentos, inertes, que me disfiguram o cérebro. Grito agonizando no próprio  silêncio.  Uma música, um poema, um parágrafo, algo assim me faz chorar porque me sinto só e incompreensível. Porém cabido ali naquele verso doido que alguém escreveu ou que até mesmo eu escrevi. Sempre me vejo só. Isso me dói. Num mundo onde todos são falsamente acompanhados e eu verdadeiramente só não me dá  muitas opções senão calar e chorar o choro dos vencidos,  dos perdido, dos que não cabem em lugar algum, dos que não têm par em coisa alguma nisso tudo. É  carnaval e eu não tenho meu arlequim,  é  carnal e eu só tenho máscaras de tristeza. Mas quando passar o carnaval elas continuarão comigo resto do ano até o feliz ano novo do maldito script a que estamos presos. É  carnaval e eu não estou feliz. Estou só como a mais longínquas das estrelas e tão perto de qualquer coisa eu estou  invisível  e inútil e vazio e perecível e invejoso e dispensável e nulo e podre sou.
É carnaval só choro, nem reza nem vela só escuro atrás dessa máscara que não sei o que esconde. Choro ouvindo uma música que não foi feita pra mim. Mas cujo versos traduzem o que sinto: abandono! Sideral! Autoquíria. Coragem! Sideral!

14/02/2020

Veritas

Naquele momento de  fúria que escapole a verdade. O cuspe,o ódio. Você é  um verme! 
Terrivelmente as tentativas de ofensas falham. Assim como falham as tentativas  de amor. Tratativas... detrator amor... às vezes em estados volitivos dignos do egoísmo de uma criança de 4 anos se pretende afável, se pretende ser o que não se sustenta por minutos. Ah, a liquidez, esse eterno entornar...
A gente se esvazia. Promessa de sexo em troca de favores fúteis. Promessas... Ao que cheguei?
Vou derrubar algumas paredes; pintar outras. O que não mudo por dentro pinto por fora. E vou assim seguindo esse determinismo ambiental derrubando para não ser tão ambientalmente determinista. Afinal derrubo paredes, ergo outras é me finjo,  me ergo outro. Vou lutando para não me fingir esperando a hora da morte que hora tarda, hora se aproxima. Vou sendo, eternamente me sendo até hora que meu último suspiro me for concedido ou em que eu me livre dele, me tome pelas rédeas a vida e  me adentre no reino de hades.  Mortífero como as labaredas da vida me entrego à morte sorridentemente.  Porque triste mesmo é  viver triste e apagado.

28/01/2020

Cremar

O barulho do já tão fatigado ventilador, trac, trac . E eu ensimesmado olhando calado para o teto. Olhando para dentro de mim, perdido. Com medo de dormir,pois mais tarde hei de acordar, e fico ansioso e não durmo porque não queria acordar, vou escutando barulhos, latidos, latidos, tosses, ouço as batidas fatidicas do meu coração e um certo pigarro na garganta. Ouço também bem lá no fundo. Minto. Bem à flor da pele, sinto um desespero de deitar a cabeça ao forno e ter com Hades. Me aliviar fosse  do que fosse. Tudo isso aqui é dor como for. Tudo isso aqui é um estrangeirismo carcomido por mentiras de vésperas e mentiras de amanhã.  Estelionatários emocionais. Surtos psicóticos . Realidades paralelas. Querelas, perrengues. Velas sem barcos. Velas e escuros. Não há para onde escapar.  Sem remos, sem remadas. Tudo é só. Tudo é véspera. Tudo é escarro. Lama.
Redemoinhos em mim. Tonto, tonto, o que sei de mim ? Tonteria.  Vou girando no meu próprio eixo. Que eixo? Arre! Não quero ser enterrado. O fogo deve ser purificador, libertador. Toda essa existência . Todo esse mal estar. Todo esse estar aqui para nada , por nada e por ninguém. Toda essa véspera. Toda essa véspera. Meus pés estão gelados , mas a noite vai quente. Deitam quentes meus pesadelos. Sonhos? Quimeras! Serpentes de mil cabeças. De mil mentiras , de mil interesses, mas não o meu interesse. São os segredos de 22° de giro para esconder o apego a um like de bosta. A um elogio falso. A um uso descartável de um corpo frágil de um ego frágil. De uma vida frágil. I made you in a sort of way.
Likes são afetos pelos quais alguns vivem e outros morrem... Morremos.
Não ter mais senha no celular é libertador.

25/01/2020

Oi, Narciso

" toda máscara tem bucaros por onde deixa escapar a verdade". Não sou só o motorista. Sou também o mantenedor miúdo, que me  preocupo com coisas miúdas, e oras, vejam só, essas coisas miúdas sempre precisam estar por perto. Sou também o fotógrafo provedor de likes alheios. Mas eu que sou o low-self-worth.
Agora sou garçom de likes. Em troca, reparem bem , de uns elogios superficiais , para uma vida idem.
O ecrã é visualizado antes de mim nas manhãs. Por último nas noites. Durantes nas conversas. Porque meu comportamento é disruptivo.
É estranho, pois não vivo da esperança do que não tenho, dos likes que recebo ou não. Não vivo desesperadamente photoshooting myself ALL the time. Tampouco obrigando a quem quer que seja a fazê-lo sobre pretexto de habilidades inexistentes. Para suprir necessidades exibicionistas que beiram o narcisismo.
Sou mais do que o motorista. Do que o fotógrafo, do que o idiota que vive a esperar pelo um pouco de afeto e de sexo. Sou mais que elogios superficiais antes de uma pegada de câmera fotográfica e cabelos molhados e poses repetidas. - tire fotos minhas. Você é bom nisso. Não, Darling. Não sou bom nisso, nem em qualquer outra coisa no mundo. E também não sou cego.

07/01/2020

A mordida do cachorro: o afeto que me resta

O único afeto que me sobrou foi do cachorro que não gosta de mim , mas que gosta de mim, que me olha quando lhe dou alimento. Seus olhares me fingem amor, mas é  só desejo de alimento. É  sempre isso: um desejo a ser suprido. Nem o cão me ama como sou, a autenticidade, tem seu preço.
Cadáveres insepultos, covas rasas. Todo mundo tem direito de ser sepultado. Todo amor tem direito de ser sepultado.
Eu tenho direito de ser sepultado. É o único direito a respeito que eu tenho. Não adeque a mim. Não se encaixe em mim. A vida não é  isso. Não me satisfaça. As pessoas se juntam para se decladiarem  e serem lindas uma com as outras . As pessoas são feias. As pessoas, você é  uma pessoa. Somos feios. Infelizes. A felicidade é uma ilusão  que seja uma ilusão solitária. É mais verdadeira.
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02/01/2020

O spleen me assola , o mal do século  que já findou há longa data sobrevive em mim. Me dilacera.  Esse monstro que  que me quer morto. Eu me quero morto. Duvido da mais "bondosa alma", da mais mal trapilha alma. Porra! Não me aguento de pé.  Estou de joelhos esperando ser ceifado pelo pescoço.  Um vintém,  minha vida não vale nada.
Promessas vãs.  Amores dúbios. Amores de telas de cristais líquidos.