Não me preocupo mais com ele.
Dei alta ao delírio amoroso
e deixei ele na portaria do meu desinteresse.
Não quero. Não duvido. Não tem suspense.
O problema é outro,
é a mobília desarrumada da minha existência.
A dúvida agora é uma cadeira sem perna
num apartamento onde até o silêncio paga aluguel.
É a solidão vestida de terno,
me oferecendo café amargo às 3h37 da manhã
enquanto questiono por que os espelhos não me respondem em voz alta.
Sou estrangeiro em todas as geografias —
inclusive em mim.
Falo mal todas as línguas,
inclusive a do afeto.
Não sei sorrir sem parecer um anúncio de derrota
nem abraçar sem parecer um susto.
Esse não-pertencimento me rói as pontas,
como rato que lê Camus em noites de tempestade.
Sou socialmente analfabeto:
não sei conjugar o verbo “estar junto”
sem tropeçar nas vogais.
Eis meu drama:
sou só.
Mas não uma solidão de violino.
Sou só como um semáforo no deserto,
como um elevador em prédio abandonado,
como um convite perdido em caixa de spam.
Nada é trágico demais,
tudo é só ridiculamente sem sentido.
E eu sigo,
como quem continua existindo só pra ver
no que vai dar essa palhaçada.
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